quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A psicose é um estado psíquico


Dos meus surtos psicóticos, os que mais me atormentavam eram os que condiziam com a sensação de invasão de privacidade ou violação da integridade.
Sentia como se alguém tivesse a chave do apartamento ou acesso aos meus perfis nas mídias sociais. Isto gerava uma mania de perseguição acirrada cada vez que chegava em casa ou ligava o desktop.
Pior que isto eram as visões na parede, como se estivesse sido ligado, ou como se estivesse sido vendido, em lojas de estado. Ou tivesse a privacidade violada uma vez que era mostrado aos obsessores. Inclusive no próprio quarto quando deitava-me para dormir. Vultos apareciam em pé.
Frequentemente ouvia marteladas. Ou sentia como se me golpeassem a cabeça. Chegava a doer de verdade.
Então pedi ajuda. Pensei que era algum familiar me vendendo. Ou alguma instituição cobrando-me a subjetividade que me faz singular.
Desde então aproximei-me daqueles que defendem minha privacidade, integridade, ambiguidades, pluralidades e singularidades.
Loucura ou não, o que importa é que sei exatamente o que quero. Embora prejudicado por uma internação onde era frequentemente coagido a cumprir horários totalmente diferentes dos meus horários biológicos, rotinas e hábitos, ainda acredito no direito de ir e vir e no direito da liberdade de expressão. Pois nasci livre e sou livre.

Juliano Paz Dornelles