sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A louça me espera

Qualquer relação da imagem com a pauta pode ser mero ilusionismo
Estava conversando com uma amiga virtual pouco antes das dezenove horas. Combinávamos uma possível saída noturna, na qual nos conheceríamos pessoalmente após alguns dias de interação mediada pelo Facebook e celular. O plano inicial era conversarmos antes da saída, as vinte uma e trina, aqui mesmo na rede. Contudo, uma obsessão pelos compromissos pessoais me fez mudar de planos.

As dezenove horas me toquei que, apesar de ter trabalhado o dia todo nos estudos e tarefas cotidianas, ainda teria que limpar e arrumar a casa, lavar roupas, fazer academia, fazer compras no super, tomar banho e escrever o texto do dia. É certo que poderia deixar tudo de lado, escolher uma ou outra atividade e neste momento (vinte e uma horas e trinta minutos) estar me preparando pra sair. Mas em meu mundo há algo importante que chamo de prioridades.

Passei pela sexta-feira em plena e total correria. Por volta das nove da manhã, olhava meus emails enquanto tomava café. Das dez ao meio dia trabalhei na leitura de uns textos pra aula de terça da semana que vem. Ao meio dia fiz uma pausa pra fazer o almoço, almoçar e ver o telejornal. As quatorze horas sai pra fazer algumas coisas na rua. Fui aos bancos sacar, fazer depósitos e retirar extratos. Depois passei mais de hora no SUS definindo a retirada de uns medicamentos. Então fui até a rodoviária em uma caminhada rápida, comprar passagem pra viagem do fim de semana. Retornei até o apartamento em que moro em mais uma caminhada de cinquenta minutos. Foram mais de duas horas de caminhada, se somar os minutos fragmentados no total da soma dos percursos isolados. 

Cheguei em casa as dezessete horas. Iniciei a digitação de um artigo das cinco até as dezoito e trinta. Então fiz um chimarrão. Interagi nas redes enquanto clicava novas imagens com o Instagram. Foi então que combinei a possível saída com a amiga virtual. Após a rápida conversa pelo face, fui malhar. Cheguei na academia em alta adrenalina. Foram sete aparelhos, com quatro séries de dez movimentos cada, após um aquecimento de cinco minutos na esteira em pouco mais de trinta minutos. Saí sorridente e brinquei com o instrutor: 'Antes demorava mais de uma hora pra fazer o mesmo treino'.

Resolvi ir no supermercado. Recebi então o torpedo de minha amiga virtual. Mudança de planos de ambos os lados. Ela estava com sono, desejava dormir e perguntava sobre a possibilidade de sair após a meia noite. Enquanto o blogueiro (este que aqui vos fala) ainda precisava fazer compras, limpar a casa, lavar roupas e decidir sobre o que escreveria no texto do dia. Pensei bem e lembrei da necessidade de acordar cedo no sábado pra viajar. Desmarcamos a saída. Fiz o super e vim pra casa.

Enquanto colocava as roupas na máquina e lavava a louça que estava sobre a pia pensei sobre este texto. Contudo, diferente de como está escrito agora. Não imaginava uma narrativa virtual onde sou o autor, narrador e protagonista na pessoa do blogueiro. Lembrei que alguns leitores preferem meus textos quando abuso das citações e referências acadêmicas; Utilizo termos científicos; E abordo assuntos estudados na pós-graduação. Contudo, também lembrei que há uma parcela da população que prefere a linguagem  informal. 

Se, de um lado, há um público intelectualizado que prefere os termos técnicos e o vocabulário científico; Ouve música clássica e vai a teatro. De outro lado há a grande massa; Que gosta de funk, padode e hip hop; Prefere textos mais informais; Utiliza um vocabulário mais usual, com abuso de gírias e termos cotidianos. Sim, a pirigueiti, a thutchuca e as cachorras entraram no vocabulário da massa. E se bobear, segura o tchan pois com o tigrão há uma grande chance de rolar o créu.

Bom, enquanto lavava os primeiros copos da pia e clocava sabão em pó na máquina de lavar roupas, lembrei que na época do pré-vestibular nos ensinaram que uma redação deveria ter introdução, um parágrafo com pontos positivos sobre o tema, outro com pontos negativos e a conclusão. Ao contrário de tudo isto, percebe-se aqui que contornei e fugi do tema várias vezes. Isto seria algo fora da técnica sob os olhos do conservadorismo. Mas, sob o meu ponto de vista (indiscutível por ser pessoal) é a própria técnica.

Mas o que tem a ver o milho com a ervilha, a não ser o fato de ser uma boa combinação ao xis da noite? Sim tudo isto parece confuso. Mas a verdade é que não sabia sobre o que escrever. Como na grande maioria das noites. Se de um lado, o tempo corrido nos traz ao desenvolvimento de pautas repetitivas, de outro, o improviso nos mostra que falar muito e dizer nada quase sempre são a mesma coisa. Além de ser também a saída mais tranquila.

Resumindo, em um parágrafo final nada conclusivo, ainda tenho que limpar a casa. O dia de estudos valeu a pena como de costume. O treino precisa ser mais intenso. A agenda, mais planejada. Meus tempos de boemia inquestionável ficaram nos trinta. Hoje as prioridades são outras. Mas como ainda abro uma exceção em casos raros; Sair a noite ainda pode ser uma opção, desde que rápido; Cedo, com a casa limpa e banho tomado. No mais, o texto do dia está escrito. Vamos à luta. E vamos que vamos ao que realmente interessa. A louça me espera.

J.P.D.

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