terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Mitos e lendas II


Ontem coloquei o seguinte post no Facebook:

"Ao renomear os santos e anjos cristãos com nomes de orixás, incorporando-lhe novas caraterísticas, a cultura afro-brasileiras repete o que um dia fizeram os romanos com os deuses gregos... 
Se hoje você chama Miguel de Xangô, Jorge de Ogum, Jesus de Oxalá e Pedro de Bará... saiba que um dia já chamaram Zeus de Júpiter, Poseidon de Netuno e Ares de Marte... sendo assim, me chamem de Juliano Paz Dornelles"

Neste sentido trago à tona a seguinte discussão. Santos e orixás seriam os maiores fraudes da história? Sei que serei detestado por muitas crenças pelo questionamento anterior. E de outro modo com cristão acredito em parte. Pergunto-me se o Homem criou Deus e os mitos para tentar preencher o entendimento que lhes falta. Contudo um lado meu acredita que Deus criou o universo.

Nietsche já anunciava esta 'fraude'. Contudo somente em relação aos 'santos católicos'. Mas deveríamos incluir nesta lista, os deuses gregos, romanos, hindus, e outros mitos como autodenominados Exus e Pretos Velhos por exemplo? Ou você acredita no Papai Noel e no coelhinho da páscoa? Se a resposta é sim diria que você anda lendo muito mangá e quadrinhos Marvel. E está com um sério problema que deve ser resolvido.

De outro modo as pessoas seguem tentando separar o mundo em dois lados. Dividir a si. Na tentativa das pessoas comungarem umas sem as outras, indo para o lado contrário do religare, da comunhão do Deus Onipresente em tudo o que existe. Onde me incluo. Pela história cristã sabemos que nenhum daqueles que foram assinados como santos se disseram tal coisa em vida. Poderíamos dizer o mesmo de outros frutos da imaginação. Sei que a grande maioria pensa de outro modo. E os respeitadores, deverão ser respeitados. No entanto vivemos na era da democracia e da liberdade de expressão.

Ou será que se começarmos a ver as pessoas como sendo deuses, isto mudaria algo? Há quem pense assim. Há quem pense diferente. Os Judeus por exemplo não aceitam Jesus como o Ungido. Já os Cristãos o vêem como Deus. Mas será que Deus poderia ser alguém sem alguns, negando assim a característica da Onipresença? Será que só atingiremos a Onipresença se deixarmos de dispensar os outros?

São muitas perguntas. Assumo e confesso. Se Sócrates dizia 'só sei que nada sei'. Prefiro dizer: 'sei muito pouco, mas tenho vontade de aprender'. Há quem irá ler 'nenhum' quando se escreve 'todos', 'nada' quando se escreve 'tudo' e entenderá 'não' quando se diz 'sim'. Estariam estes negando suas próprias crenças? Negando aquilo que falam, pensam e sentem? Mas ninguém precisa aceitar o que está escrito aqui.

Talvez você sinta sem nós coisas que sentimos conosco. E vice-versa. Também é possível que sintam sem os seus, algo que os seus sentem diferente. Sim, existem ângulos distintos de ver as coisas que devem ser respeitados. Não estou aqui querendo dar uma de Kafka e liberar minhas mágoas em relação à minha origem. Mas sim fortalecer a ideia de que as pessoas devem assumir-se pessoas. 

Há sim o bem e o mal. O certo e o errado. Um lado cuida do seu próprio terreiro, o outro observa o quintal do vizinho. Baudrillard já dizia que não há homem cem por cento bom ou mau. O bem e o mal convivem em comunhão em cada mente e em cada coração. Jesus talvez nos aceitasse como somos, Pedro talvez negasse a quem somos, pensamos ser ou somos aceitos como sendo. Contudo, mitos são mitos e lendas são lendas. 

Às vezes é preciso negar a si mesmo. Sacrificar a própria identidade para cultivar uma nova. A lenda da águia que na metade da vida arranca suas penas, suas unhas e bico para renovar-se e viver a segunda metade de sua vida. A fênix que após queimar-se no sol ressurge da cinzas cada manhã pra alçar um novo vôo. De um lado negar a si. Recriar-se (Ou transformar-se como diria Lavousier). Dando vida à uma nova identidade, agregando a ela parte daquilo que encontramos na jornada. De outro lado, reconhecer os outros como somos, longe do imaginário e com os pés no chão. Mas sejamos adultos neste sentido. Mesmo se desejarmos olhar a nós com olhos mitológicos, algo que posso e sei fazer, precisamos olharmo-nos como somos. Longe da ficção. 


J.P.D.

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