sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Crítica à Razão Tecnológica I


A medida em que interagimos com o mundo e os outros homens iniciamos um processo de descobrimento e entendimento do cosmos. Conhecemos os seres, as situações, a matéria e o que a transcende, a partir de um procedimento de nomeação. Os entes são definidos pela palavra. E é o logos (palavra) que traz o ente do universo da existência ao mundo existente.

O mundo só existe com palavras. É composto por tudo aquilo que pode ser definido pela nomenclatura. O código linguístico permite que compreendamos a coisa como coisa.

Neste contexto, criamos o nosso mundo, mesmo pertencentes a um mundo externo e coletivo. Nosso mundo, primeiramente apresenta-se delimitado pelo vocabulário. Ingenuamente poderíamos dizer que só seria existente em nosso mundo aquilo que pudermos definir ou entender a partir de um código linguístico. A palavra. O logos.

Me opondo a Heidegger, me atrevo a dizer que nosso mundo transcende o vocabulário. É composto também por tudo aquilo que desconhecemos, mas que, imerso no subconsciente da existência, faz parte de nosso cotidiano.

O universo da existência é ilimitado. Dele emergem os entes legitimados pela nomenclatura da palavra. Entes estes que formam um mundo. O mundo medieval; O mundo espiritual; O mundo da ciência; O mundo capitalista; etc

De algum modo não são mundos. São apenas esferas de interação baseadas em um vocabulário definidor de entes existentes. Ideologias, palavras e coisas. Pensamentos e preceitos.

Sei que parece difícil entender tais considerações sem utilizar ao menos uma fundamentação teórica como apoio. Mas se as bengalas nos fazem andar em círculos, caminhemos em linha reta com passos firmes.

O que desejo explanar com esta colocação parabólica e representativa é que podemos e precisamos nos desvencilhar da concepção do mundo como um conjunto de entes pré-definidos pela palavra. Podemos compreender o mundo como um coletivo de entes existentes somados ao que ainda é desconhecido e está imerso na esfera da existência.

Há uma necessidade de diálogo. A técnica surge como modelo pré-formatado de automação de atividades. Que, diga-se de passagem, é outra ‘bengala’. Transcender a técnica implica primeiramente entendê-la.

Partimos então da ideia de que somos e estamos no mundo. Mas quem somos? E em qual mundo vivemos? Existe mais de um mundo? Quantos mundos? Quais mundos?

As ideias aristotélicas nos induzem ao raciocínio lógico. Raciocínio este que matematicamente, e ceticamente, só nos permitiriam acreditar naquilo que pudermos ver, presenciar, experimentar, entender e explicar.

Eis a enrascada fenomenológica. Onde precisaríamos partir da observação lógica de um fenômenos para entendê-lo. Mas como entender um fenômenos sem conhecê-lo? Como definir algo sobre alguma coisa sem ao menos saber do que se trata?

A metafísica nos coloca na presença do existente que não pode ser apalpado. Tampouco pode ser visto. Tampouco, ouvido. O físico seria tudo o quanto pudéssemos pegar, tocar e ver. Mesmo que fosse uma representação imagética de algo concreto. Mesmo assim seria uma imagem física.

‘Penso, logo existo’, diria Descartes. ‘Penso, logo hesito’, diria o prudente. Mas quem seria o prudente? E o que seria a prudência? Além de um ente metafísico a compor o pensamento consciente. Sendo que própria consciência e o próprio pensamento são entes metafísicos.

Neste universo de questionamento entra o ser. Somos o ser? O ser pode ser definido como um ente? Mas, se o ‘mundo é’ (algo definido pela palavra), poderíamos reduzir o mundo a um ente? Ou continuamos nos definindo pela palavra, mesmo sabendo que cada homem pode ser um mundo a parte; Com próprio vocabulário; Com entes exclusivos de uso e diálogo intrapessoal?

Talvez Heidegger discordasse desta colocação. Pois segundo ele, o mundo é um conjunto de entes. Enquanto os entes são todas as coisas, físicas ou metafísicas, que podem ser definidas pela palavra. Conforme Heidegger o homem seria um ente, e não um mundo. Chegou a hora de contestarmos esta posição.

Se o homem como mundo parece transcender o pensamento condicionado pela fundamentação teórica em Heidegger, entendemos então o homem como ente. Ser agente transformador do mundo. Ser participante da interação social.

O mundo dos homens, da física e da metafísica, é cada vez mais condicionado pela técnica. Mas o que é a técnica? Um tipo de saber? Um saber que faz acontecer? Um procedimento metodológico? Ou o que mais pudermos definir como tal?

De algum modo, a técnica vem automatizando o mundo. Da mesma forma que o seu principal produto; A tecnologia. Mundo este, que apropriado pela maquinação nos coloca em um total contexto de armação tecnológica. Um mundo cada vez mais tecnológico. Mecânico e automático.

J.P.D.

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