sexta-feira, 25 de abril de 2014

Etnografias


ESTUDO ETNOGRÁFICO

A seguir temos o exemplo de um estudo de campo nos moldes etnográficos. De forma superficial e sucinta

Juliano Paz Dornelles
Mestrando em Comunicação

AMBIENTE ESCOLHIDO
Os bares da Rua dos Andradas ao meio dia de sexta-feira.

DESCRIÇÃO DO MACROAMBIENTE

Porto Alegre, 25 de abril de 2014 – 12 horas e 25 minutos
Rua dos Andradas, número 745 – Centro Histórico da Capital dos Gaúchos
Edifício Dona Arieta – Boteco Andradas – Bar e Restaurante

Escolho uma mesa na calçada e inicio o procedimento de observação etnográfica.

As pessoas ao redor almoçam. Os garçons atendem e servem as mesas. Me coloco em uma mesa do lado externo da calçada. Na mesa da frente: Ala minuta e suco de laranja. Três jovens almoçam. Um casal e outro rapaz. Interajo com um deles e pergunto qual atividade realiza no celular naquele momento. Diz estar de olho nas redes sociais. Revela ser ator. Mesma atividade do casal que o acompanha.

Interajo com o garçom. Peço um café expresso pequeno. No valor de três reais. Recebo o pedido e adoço com adoçante. Registro cada detalhe e continuo observando.

As pessoas se movimentam pelas calçadas. Boa porcentagem caminha e almoça com o celular na mão. Falando ou utilizando outros recursos. Noto também a presença de fones de ouvido e torcedores vestindo camisetas de times de futebol.

O movimento dos pedestres nas calçadas é mais intenso do que o de carros na rua. Pais trazem os filhos da escola. Percebo serem alunos saindo da aula, pelo fato de trazerem consigo merendeiras e mochilas. O contraste é visível. Mendigos circulam entre trabalhadores engravatados (possivelmente empreendedores uma vez em que há um grande número de empresas e escritórios nas redondezas).

Observando o ambiente percebo as ruas aparentemente limpas. Com exceção de dois contêineres de entulho sobre a calçada do prédio da Casa de Cultura Mário Quintana, que se encontra em reforma, do outro lado da rua.

O consumo de tabaco, neste ambiente e momento, é maior entre as mulheres do que entre os homens. Noto, do outro lado da rua, na calçada do Bar De Torres, a presença de senhoras idosas almoçando. Ao mesmo tempo, percebo jovens bebendo álcool.

O céu azul com esparsas nuvens brancas. O clima de outono faz com  que algumas pessoas utilizem agasalhos. Consulto a internet e registro a temperatura de 21 Graus Célsius.

Os carros se movimentam no sentido do Gasômetro em direção ao Shopping rua da Praia. Dentro do alcance visual, um outro do bar do mesmo lado da calçada em que me encontro: Pizzaria Mundo da Fatia. Nos três bares visíveis, a maioria dos frequentadores almoçam.

Finalizo o café. Interajo novamente com o garçom e peço uma água com gás e um copo com limão e gelo.

Prestando atenção no som de fundo, percebo várias vozes conversando ao mesmo tempo. Nota-se mais o som das conversas do que o som dos carros no trânsito. Nenhum sinal de barulho de obras naquele local e naquele momento.

Moradores do prédio, ao lado da Casa de cultura Mário Quintana, sobre o Bar De Torres, observam, das sacadas, o movimento na rua.

Noto a presença do consumismo a partir do grande número de pedestres carregando sacolas de compras. O uso do celular é intenso.

No carro estacionado ao lado da mesa em que me encontro, um jovem assiste um clipe, com fones de ouvido, em um laptop. Interajo com o rapaz rapidamente. O jovens da mesa da frente me perguntam o que estou fazendo. Revelo estar realizando uma etnografia. Entrego-lhes um panfleto de meus serviços como consultor em mídias e digo-lhes pra acessar o blog pazdornelles.com.

Percebo ser 13 horas. E ter completado 35 minutos. Finalizo a água mineral. Dirijo-me até o caixa. Entro na fila. Noto a presença de várias máquinas de cartão de crédito. E um grande volume de dinheiro circulando. Acerto as contas. E caminho em direção ao home office no qual resido.


ANÁLISE DOS DADOS

Ao analisar os dados observados podemos fazer algumas conclusões rápidas. O porto alegrense gosta de se reunir em bares no intervalo do trabalho, pra almoçar e conversar.

A tecnologia faz parte da vida dos homens no terceiro milênio. Ainda temos problemas sociais visíveis. Principalmente em relação à inclusão. A sociedade é plural e heterogênea. Mas há laços e afinidade que aproximam as pessoas.

Podemos citar, como pontos, de convergência o lugar geográfico. O cosmopolita se encontra no local. Os afins se reúnem. E os opostos se cruzam, aparentemente despreocupados uns com os outros.

Há uma curiosidade visível das pessoas. Percebida principalmente na situação em que o jovem da mesa da frente me pergunta o que estou fazendo e porque anoto tudo em meu caderno.

Neste sentido, noto que há interesse, por parte de algumas pessoas em interagir. Intercambiar. Enquanto, ao mesmo tempo, outras olham de longe.

Cada um move-se por algo distinto. Apesar de estarem reunidos no mesmo ambiente por interesses afins. Consumir refeições ou bebidas. Caminhar em direção a algum lugar. Fazer um break. Observar o movimento.

Algumas pessoas são mais curiosas. Gostam de saber o que está acontecendo. E procuram conversar e interagir. Outras se mostram despreocupadas com os outros e concentram-se no que estão fazendo. Ou, até mesmo, agem como se estivessem no piloto automático, desligadas do mundo real.

É esta pluralidade de identidades, movimentos e interesses, que faz o mundo ser heterogêneo. Revelando que, até mesmo, os opostos se encontram em algum momento e em algum lugar.


Juliano Paz Dornelles
Mestrando em Comunicação

Nenhum comentário:

Postar um comentário