segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Curtir o caminho

Foto de Juliano Dornelles

Há tempos venho comercializando uma forma alternativa de viver. Algo que fui obrigado a aprender durante a caminhada. Esta maneira de encarar os desafios torna a caminhada mais prazerosa e menos cansativa. Consiste em duas coisas básicas: Intercalar atividades e descansar em movimento.

Durante minha adolescência fiz tudo aquilo que um jovem entre quinze e trinta anos costuma fazer. Frequentei quase todo tipo de festas. Curti quase todo tipo de mulher. Bebi quase todo tipo de bebida alcoólica.  Além de outras experiências as quais prefiro não citar, pois nada acrescentam. Nos últimos doze anos, troquei de faculdade quatro vezes até me formar. Trabalhei em mais de dez empresas diferentes ao mesmo tempo em que passei a maior parte do tempo procurando vagas. Experimentei do bom salário ao subemprego. E ainda estou na luta. Mas foi a partir dos trinta anos que comecei a ver o mundo com outros olhos. É como se eu houvesse dormido por trinta anos em meu íntimo. E então houvesse despertado. Migrava de um mundo onde havia vítimas, culpados, vilãos e outros seres marginalizados. Para um mundo onde cada um é responsável por sua realidade.

Fumar um cigarro ou tomar uma cerveja não mais resolveria meus problemas. Aliás, nunca resolveram. Mas prestar atenção no movimento do universo, e nos próprios passos, me fez entender o caminho. Minha concentração já não era a mesma dos tempos anteriores à vida boêmia. O mesmo poderia falar do preparo físico. Foi então que precisei rever minhas posições e atitudes em cada situação. As festas deram lugar à navegação noturna com interesses profissionais ou acadêmicos. As manhãs de cama até tarde foram substituídas pelo toque do celular em um horário que me permitisse salvar a produtividade diurna. Os treinos de academia se tornaram obrigatórios  Além da necessidade de reeducação alimentar. O cigarro, o álcool e todo tipo de substância química que altera o comportamento foram eliminados por completo. Mas descobri que havia algo mais a ser feito.

A concentração estava prejudicada. E como precisava focar em trabalhos específicos e estudos cotidianos, pesquisei na internet uma forma de transformar este problema em algo benéfico. Descobri um estudo que recomendava um break de dez minutos entre cada cinquenta minutos de estudo ou trabalho. Adaptei a formatei ao meu modo. E comecei a intercalar atividades como estudo, trabalho em meus empreendimentos, tarefas domésticas, interação com amigos, navegação nas redes e outras atividades como ler o jornal, ouvir rádio e tomar um chimarrão.

No princípio ficou tudo uma confusão. E confesso que ainda precisa de umas regulagens, porém comecei a ter mais prazer em desempenhar cada tarefa. O dia se tornou mais produtivo. Comecei a limpar a casa todos os dias, estudar de manhã, de tarde e  de noite, atender meus clientes de forma intercalada sempre que surge trabalho, malhar com maior frequência do que antes e passar a maior parte do tempo produzindo algo. Desde a hora que acordo até a hora de dormir. 

O mesmo precisei fazer com a academia. Sentia uma necessidade de incluir atividades aeróbicas no treino. Então comecei a correr na mesma semana que resolvi cortar o cigarro. Isso há alguns meses. Na primeira semana que tentei correr na esteira passei mal já no terceiro minuto de corrida. Precisei criar um treino alternativo. Se o máximo que aguentava correndo eram dois minutos, ou era obrigado a parar no terceiro minuto, ou a caminhar o restante do caminho. A segunda opção foi a escolhida. Descobri que a cada intervalo de três minutos caminhando, conseguia correr mais dois. Assim poderia passar dos vinte minutos tranquilamente intercalando corrida e caminhada.

Estes dois exemplos são exemplos cotidianos de algo simples de perceber. A jornada se torna mais tranquila de ser percorrida, quando podemos aproveitar a caminhada. Isto funciona tanto na atividade física, quando nas atividades intelectuais como trabalho e estudo. Fazer um break às vezes é necessário e faz recompor as energias, renovar a motivação e incorporar uma dose extra de inspiração. Sei que isto é fruto de uma experiência pessoal que ainda não me levou a nenhum lugar concreto. Mas como sou o laboratório de minhas próprias experiências, sinto que esta é uma forma de viver mais tranquila, saudável e construtiva do que era antes. O caminho nos ensina pra onde ir.


J.P.D.

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